sábado, 4 de julho de 2015

"Saudades do tempo que se tinha tempo. De quando o tempo não era inimigo. Quando as roupas descosturadas eram reparadas à mão e as brancas sujas colocadas pra quarar. Um dia todo pra lavar roupas! Não tinha problema. Saudades de quando as frutas eram tiradas dos pés, que precisavam ser regados e cuidados. E escalar mangueiras era nosso maior desafio. De quando os encontros e sorrisos não precisavam ser registrados, e sobrava mais tempo pras conversas. De quando as coisas não tinham que ter propósito ou lhe preparar pra vencer na vida. Jogar pedras na rua ou na água pra ver quem joga mais longe, disputar corridas descalços na terra, descobrir formas nas nuvens... Saudades de quando a única pressa era de comer logo pra voltar pra rua pra brincar. Do cheiro da comida no fogo à lenha, do almoço colocado de manhã bem cedo, pra cozinhar devagar. De como o natal demorava a chegar. Saudades da criança que achava que ia ser eterna, porque o tempo pra ela, era amigo. Ele nunca iria se desfazer dela. Ele nunca iria sufocar."
(Rachel Carvalho)

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