segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Tudo bem. Tudo indo. Tudo certo. Tanto amor. Tudo incerto... 
Tanta coisa ruidosa. Tanta saudade danosa. Tanto querer. Tanto fazer. Tanto prazer. Tanta espera pelo nada. Tanto frio no vazio. Tanto choro sem consolo. Tanta loucura solitária. Tanta dor sem cura. Tanto aqui. Tanto muito pelo pouco. Tanto pouco pelo muito. Tanta escuridão sem motivo. Tanta claridade sem necessidade. Tantos presentes urgentes. Tantos futuros incertos. Tantos invernos nus. Tantas primaveras mortas. Tantos ensaios sem roteiros. Tantas peças sem palmas. Tanta coragem sem causa. Tantos medos sem motivos. Tantos punhos cerrados. Tantos abraços contidos. Tantos ganhos sem necessidade. Tantas necessidades sem ganhos.
Tantas buscas sem encontros. Tantos imaginários. Tantos silêncios perversos. Tantas portas abertas. Tantos corações fechados. Tanta cumplicidade sem par. Tanto amor desperdiçado. Tantas lembranças acumuladas. Tanto eu presente. Tanto tu ausente...

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

...Ela acordava todos os dias,
pensava em quem poderia ser,
já que se tornava cada vez mais distante  diante dos olhos alheios do que queriam que ela fosse...
Buscava a aceitação, o colo, a compreensão,
o que tinha eram os esporros,
os olhares depreciativos,
as necessidades machistas.
Chorava de nojo de si, a cada homem que se satisfazia dela, lavava seu corpo, um dia grande incômodo a ela, hoje, obstáculo quase que intransponível entre seus anseios e o mundo a sua volta.
Esfregava-o como quem quisesse tirar da pele a dor da alma.
Não limpava...
Não limpava!
NÃO LIMPAVA!
Sua beleza confundiria a qualquer um, a voz grave de outrora dava lugar à maciez. Ninguém apostaria.
Infelizmente, somos desonestos demais, exigindo que qualquer João jamais se torne Maria.
- Aberração! – gritavam.
- É pecado! – ouvia-se ao longe.
Cada um, baseando-se em suas próprias crenças aterrorizantes, quase hipócritas, formava a esponja que dilacera a pele dela e rasga seu couro.
Ela foi perdendo o brilho no olhar, chorava diante do deleite de qualquer um que a quisesse entre quatro paredes, mas a tratava feito a Geni, ou uma dessas mulheres que só dizem sim, se se deparasse com o mesmo corpo às ruas. Os mesmos que pagavam pelo seu sigilo e submissão, os mesmos que buscavam eu seu corpo "contraditório", asilo e prazer.
Sua raiva, sua mágoa, seu abandono a sufocavam até de o dia em que não mais...
Preparou um laço.
Não os de enfeitar, ela não precisaria mais destes ou de qualquer dos acessórios e maquiagens de que sempre fora julgada por usar. Esse laço era mais forte.
Chorando, colocou-o em torno do pescoço, amarrando-o bem alto. Subiu em um banco qualquer, não como quem vai à forca, mas como quem tira da força liberdade para uma dor que já calava qualquer de seus ideias. “Se ela quer voar, é porque tem asas...”
Qualquer um pensaria em suicídio, eu discordo.
Ela nunca haveria tirado sua própria vida sozinha, empurrou com ela, o banco que a sustentava, cada um dos que roubou sua vida, sua alma.
- O salário do pecado é a morte! – ainda houve quem gritasse.
Eu chorei. Sabia que não seria a última.
Fran Santana

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

POR IMPULSO
Houve um dia, meu amor,
que por impulso me disseste: fica!
E sem pensar, fiquei.
Tentativas vãs de deter o tempo,
como se pudéssemos segurar
água e areia escorrendo entre os dedos.
Tentei ouvir o que não me disseste,
tentaste me dizer o que eu não quis ouvir
e a verdade se perdeu.
E o que fizemos dessas tantas chances
que nos demos?
Num rompante de recuo e de medo,
soltaste minhas mãos oferecidas
e esgarçastes a seda do desejo.
Louca, fiz dos sonhos uma fogueira,
e me ceguei para setembro.
Agora é tarde!
Por impulso, amor, por impulso
nos perdemos.
Leide Borges

Sou Eu
Sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo, 
Espécie de acessório ou sobressalente próprio,
Arredores irregulares da minha emoção sincera,
Sou eu aqui em mim, sou eu.
Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou.
Quanto quis, quanto não quis, tudo isso me forma.
Quanto amei ou deixei de amar é a mesma saudade em mim.
E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco inconsequente,
Como de um sonho formado sobre realidades mistas,
De me ter deixado, a mim, num banco de carro elétrico,
Para ser encontrado pelo acaso de quem se lhe ir sentar em cima.
E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco longínqua,
Como de um sonho que se quer lembrar na penumbra a que se acorda,
De haver melhor em mim do que eu.
Sim, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco dolorosa,
Como de um acordar sem sonhos para um dia de muitos credores,
De haver falhado tudo como tropeçar no capacho,
De haver embrulhado tudo como a mala sem as escovas,
De haver substituído qualquer coisa a mim algures na vida.
Baste! É a impressão um tanto ou quanto metafísica,
Como o sol pela última vez sobre a janela da casa a abandonar,
De que mais vale ser criança que querer compreender o mundo —
A impressão de pão com manteiga e brinquedos
De um grande sossego sem Jardins de Prosérpina,
De uma boa-vontade para com a vida encostada de testa à janela,
Num ver chover com som lá fora
E não as lágrimas mortas de custar a engolir.
Baste, sim baste! Sou eu mesmo, o trocado,
O emissário sem carta nem credenciais,
O palhaço sem riso, o bobo com o grande fato de outro,
A quem tinem as campainhas da cabeça
Como chocalhos pequenos de uma servidão em cima.
Sou eu mesmo, a charada sincopada
Que ninguém da roda decifra nos serões de província.
Sou eu mesmo, que remédio! ...
Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa
Você saberá que é amada
Quando ele te olhar com mais carinho do que desejo
Com mais ternura do que paixão
Você saberá que é amada
Quando ele pedir mil desculpas por ter chegado atrasado
E você perceber nos olhos dele
Que ele está com o coração na mão
Você saberá que é amada
Quando ele não medir esforços para te ver
Para te agradar
Nem para demonstrar de todas as formas
O quanto ele te adora e te quer bem
Você saberá que é amada
Quando mesmo que você sequer o esteja notando
Ele não pare de te rodear
Ansioso por te encher de mimos e carinhos
Você saberá que é amada, enfim,
Quando ele ligar para você quando você menos esperar
Nem que seja apenas para ouvir tua voz
E te desejar um lindo dia
E continue sempre a cantar
e a declarar os sentimentos dele por você
Mesmo que ele não ouça de você
Uma única palavra
E continue mostrando-se completamente apaixonado
Mesmo que ele saiba
que qualquer coisa que ele faça
Será totalmente em vão...
Augusto Branco
Já são 18h50min, vagarosamente a noite se aproxima, calmamente o vento caminha entre as vielas... A chuva fina continua a cair, molhando intensamente calçadas, janelas, carros e o meu rosto... Estou a dois quarteirões do seu serviço... Sapatos molhados, calça e camisa respingadas e um aperto no peito... Cada vez mais devo apressar os passos...
Exatamente às 19h05min, você surge, do outro lado da calçada, o coração dispara, a respiração fica ofegante, fico hipnotizado, sem ao menos você saber, presto atenção em cada detalhe em você, sua roupa, a barra da sua calça molhada, seus sapatos branco, seu rabo de cavalo loiro, seu guarda-chuvas rosa (aquele), seus lábios e seus olhos (ambos um dia já me pertenceram) que procuram rapidamente um abrigo da chuva...
Recordo-me quando abria a porta do carro e você entrava, sentava-se, sorria e eu fechava-a, dava a volta por trás e olhava, você esticava seu braço esquerdo e puxava o pino da minha porta, o tempo parava, inesperadamente surgia no pensamento: É “Ela”. Era tão simples e mágico. A tão desejada felicidade, lá estava ela, com certeza...
Tudo foi corrompido, desintegrado, o caminho de volta se tornou um labirinto... Sombrio... As roupas molhadas já não importavam mais... E o tempo, a sim, esse velho amigo que nos acompanhará até a morte.
Meses atrás, eu lhe trazia flores e chocolates, mesclados com sorrisos e fortes abraços... Mas ontem... Eu só queria me despedir...
Partir é deixar reticências ao acaso... Eu já te esqueci, mas o meu coração ainda não...
Ines Flores

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Respeite meu choro, me deixe sozinha, só volte quando eu chamar e, não me obedeça sempre que eu também gosto de ser contrariada. ( Então fique comigo quando eu chorar, combinado?)...


Leia, escolha seus próprios livros, releia-os. Odeie a vida doméstica e os agitos noturnos. Seja um pouco caseiro e um pouco da vida, não de boate que isto é coisa de gente triste. Não seja escravo da televisão, nem xiita contra. Nem escravo meu, nem filho meu, nem meu pai. Escolha um papel para você que ainda não tenha sido preenchido e o invente muitas vezes...
Me enlouqueça uma vez por mês mas, me faça uma louca boa, uma louca que ache graça em tudo que rime com louca: loba, boba, rouca, boca ... Goste de música e de sexo. Goste de um esporte não muito banal. Não invente de querer muitos filhos, me carregar para a missa, apresentar sua família... Isso a gente vê depois ... se calhar...