sexta-feira, 5 de setembro de 2014

...Ela acordava todos os dias,
pensava em quem poderia ser,
já que se tornava cada vez mais distante  diante dos olhos alheios do que queriam que ela fosse...
Buscava a aceitação, o colo, a compreensão,
o que tinha eram os esporros,
os olhares depreciativos,
as necessidades machistas.
Chorava de nojo de si, a cada homem que se satisfazia dela, lavava seu corpo, um dia grande incômodo a ela, hoje, obstáculo quase que intransponível entre seus anseios e o mundo a sua volta.
Esfregava-o como quem quisesse tirar da pele a dor da alma.
Não limpava...
Não limpava!
NÃO LIMPAVA!
Sua beleza confundiria a qualquer um, a voz grave de outrora dava lugar à maciez. Ninguém apostaria.
Infelizmente, somos desonestos demais, exigindo que qualquer João jamais se torne Maria.
- Aberração! – gritavam.
- É pecado! – ouvia-se ao longe.
Cada um, baseando-se em suas próprias crenças aterrorizantes, quase hipócritas, formava a esponja que dilacera a pele dela e rasga seu couro.
Ela foi perdendo o brilho no olhar, chorava diante do deleite de qualquer um que a quisesse entre quatro paredes, mas a tratava feito a Geni, ou uma dessas mulheres que só dizem sim, se se deparasse com o mesmo corpo às ruas. Os mesmos que pagavam pelo seu sigilo e submissão, os mesmos que buscavam eu seu corpo "contraditório", asilo e prazer.
Sua raiva, sua mágoa, seu abandono a sufocavam até de o dia em que não mais...
Preparou um laço.
Não os de enfeitar, ela não precisaria mais destes ou de qualquer dos acessórios e maquiagens de que sempre fora julgada por usar. Esse laço era mais forte.
Chorando, colocou-o em torno do pescoço, amarrando-o bem alto. Subiu em um banco qualquer, não como quem vai à forca, mas como quem tira da força liberdade para uma dor que já calava qualquer de seus ideias. “Se ela quer voar, é porque tem asas...”
Qualquer um pensaria em suicídio, eu discordo.
Ela nunca haveria tirado sua própria vida sozinha, empurrou com ela, o banco que a sustentava, cada um dos que roubou sua vida, sua alma.
- O salário do pecado é a morte! – ainda houve quem gritasse.
Eu chorei. Sabia que não seria a última.
Fran Santana

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